Tecnologias impulsionando a gestão pública

Como as tecnologias podem impulsionar a gestão pública municipal? O que as cidades referências no assunto estão fazendo para impactar diretamente a vida das pessoas?

Você sabia que Curitiba tem um sistema de transporte público conhecido como “Linha Direta”, que usa GPS para rastrear a localização dos ônibus em tempo real? Isso possibilita que os passageiros acessem essa informação pelo celular e planejem suas viagens de forma mais eficiente. Sabia que em São Paulo tem um sistema de monitoramento de tráfego que usa câmeras e sensores para monitorar o trânsito em tempo real? Assim, eles conseguem ajustar os tempos dos semáforos e melhorar o fluxo de tráfego. Esse cenário é o ideal quando conseguirmos unir a tecnologia e a gestão pública para melhorar a vida das pessoas. Com toda a certeza, estamos falando do verdadeiro significado de tecnologias impulsionando a gestão pública.

Graças ao avanço da tecnologia, as prefeituras estão cada vez mais incorporando a mentalidade de que as ferramentas digitais também podem estar a serviços da população, fazendo com que as políticas públicas do município ganhem mais robustez. Assim, facilita o trabalho das secretarias e ajuda na captação e organização de dados, fazendo com que as decisões sejam baseadas em dados e evidências sem vieses.

Brasil é um dos principais países que fomentam a inovação, mas a gestão pública ainda não está dentro desse ambiente

Pelo relatório “The Global Startup Ecosystem Report 2021”, o Brasil representa 30% de todo o ecossistema da América Latina de desenvolvimento de startups e scale ups (negócios tecnológicos que oferecem soluções de alto impacto social e econômico). Cidades como Florianópolis, Belo Horizonte, Recife, Curitiba e São Paulo possuem ecossistemas robustos de inovação e aceleração de negócios que são referências no mundo. Entretanto, vemos que essas soluções apresentadas no começo do texto são exceções, por mais que sejamos um dos celeiros de empresas recém criadas que podem atuar diretamente na qualidade dos serviços que os governos oferecem aos cidadãos.

O cenário atual é que a maior parte do setor público tem se beneficiado muito pouco dessas soluções, mesmo com as inúmeras necessidades. Tecnologias como blockchain, IA, big data e IoT estão trazendo inovação para o mercado e podem facilmente ser usadas para impulsionar a gestão pública municipal. Pois, elas têm a capacidade de fomentar a participação cidadã e trazer mais eficiência e transparência, especialmente, quando se trata de fazer os serviços chegarem para quem mais precisa com agilidade.

Nesse texto, venho mostrar o significado mais puro da frase “tecnologias como propulsor da gestão pública” e trazer cases de sucesso que já estão acontecendo em cidades brasileiras.

Sistemas de informação geográfica (GIS)

São um conjunto de sistemas de softwares e hardwares capazes de produzir, armazenar, processar e analisar inúmeras informações sobre o espaço geográfico, tendo como produto final mapas temáticos, imagens de satélites, gráficos e tabelas. Os GIS permitem que os governos locais gerenciem e visualizem dados geográficos, como informações sobre o uso do solo, a distribuição da população e a infraestrutura da cidade. Isso, inegavelmente, ajuda os governos a tomar decisões informadas sobre planejamento urbano, transporte, saneamento básico, por exemplo, permitindo que tecnologias impulsionem a gestão pública.

O Rio de Janeiro desfruta do SIG em diversos projetos, como no monitoramento e gestão de áreas de conservação ambiental, garantindo a preservação dos ecossistemas e da biodiversidade local. Juntamente com Belo Horizonte, utiliza o SIG para monitorar e gerenciar as áreas de risco da cidade, garantindo a segurança da população em caso de desastres naturais. Por último, temos Porto Alegre, que aplica o SIG para gerenciar o planejamento urbano e a expansão da cidade, garantindo o crescimento sustentável e equilibrado.

Aplicativos móveis

Por sua vez, permitem que os cidadãos interajam com o governo local de maneira mais fácil e eficiente, oferecendo serviços como solicitação de serviços públicos, reclamações de problemas, pagamento de impostos, entre outros. Temos dois ótimos exemplos:

  • Colab, plataforma digital de engajamento cívico: permite que os cidadãos participem mais ativamente da governança da cidade, fornecendo feedback, fazendo perguntas e compartilhando ideias. Ele ainda permite que os cidadãos relatem problemas na cidade, como buracos nas ruas, lâmpadas queimadas ou lixo acumulado em determinada área. Desse modo, as autoridades podem usar essas informações para agilizar a solução desses problemas, melhorando a qualidade de vida dos cidadãos. Por exemplo, a prefeitura de Curitiba recebeu denúncias de estacionamentos ilegais na cidade pelo aplicativo. Tendo essa informação, a Secretaria Municipal de Trânsito (SETRAN) realizou uma ação de fiscalização nos locais apontados pela população e atuou em flagrante vários veículos estacionados em locais indevidos.
  • Moovit, aplicativo para transporte público: fornece informações em tempo real sobre o horário de chegada dos ônibus, metrôs e trens, permitindo que os cidadãos planejem melhor suas viagens. Portanto, as autoridades podem usar essas informações para monitorar a eficiência do transporte público e melhorar a qualidade desse serviço. Já é realidade em cidades como São Paulo, Recife e Salvador.

Big data e análise de dados

Pode-se usar dados coletados por meio de sensores, câmeras, mídias sociais, para entender melhor como as cidades estão sendo utilizadas e identificar problemas e oportunidades.

Só para exemplificar, o Rio de Janeiro utiliza big data para monitorar a segurança pública, analisando dados de crimes e ocorrências em tempo real para direcionar ações policiais. Além disso, a cidade utiliza big data para melhorar a gestão do trânsito e para identificar áreas de risco. Por sua vez, Campinas usa dentro da saúde pública, analisando dados para identificar áreas com maior incidência de doenças e para direcionar melhor recursos. Ou seja, todas essas aplicações servem para que a análise de dados possa ajudar os governos a tomar decisões baseadas em evidências e alocar recursos de forma mais eficiente, impulsionando a gestão pública.

Internet das Coisas (IoT)

IoT é uma rede de objetos físicos incorporados a sensores, software e outras tecnologias com o objetivo de conectar e trocar dados com outros dispositivos e sistemas pela internet. Esses sensores podem ajudar a monitorar e gerenciar os recursos da cidade, como iluminação pública, tráfego e resíduos. Vejam os casos de Belo Horizonte e São José dos Campos:

Blockchain e Inteligência Artificial (IA)

  • A capital de Minas Gerais tem um sistema de gestão de resíduos sólidos que usa sensores para monitorar os níveis de lixo em contêineres públicos. A saber que os agentes públicos podem usar esses dados para melhorar a eficiência da coleta de lixo e reduzir o desperdício. Belo Horizonte é um dos municípios referências que provam como a tecnologia pode alavancar a gestão pública.
  • O município de São Paulo investiu em recursos tecnológicos em todas as áreas da gestão pública como saúde, educação, mobilidade urbana e segurança pública. A prefeitura colocou +4 mil dispositivos que informam aos motoristas onde há uma maior concentração de vagas livres para estacionar pelas ruas da cidade. A solução ajuda a reduzir o fluxo de automóveis, pois monitora remotamente o local e aponta a existência das vagas.

O uso de blockchain fornece informações imediatas, compartilhadas e completamente transparentes armazenadas em um local que só pode ser acessado por membros autorizados da rede. Ele pode ser aplicado para ajudar a garantir a transparência e integridade dos processos governamentais, por exemplo, garantindo a transparência na gestão de recursos públicos. Quando aliado à IA, é usada para automatizar processos burocráticos, permitindo que funcionários públicos se concentrem em tarefas mais importantes e de alto valor agregado.

E no Brasil?

Embora o Brasil ainda esteja em fase inicial no uso deles para melhorar a gestão pública, já existem iniciativas interessantes em algumas cidades brasileiras. Abaixo estão alguns cases que ilustram bem esse panorama:

  • Florianópolis está usando blockchain para monitorar e controlar a qualidade da água em reservatórios e estações de tratamento. Porque ele consegue analisar dados de sensores em tempo real, identificando as etapas do tratamento que precisam sofrer algum tipo de intervenção. Com base nessa análise, os agentes públicos podem implementar políticas para tornar a distribuição de água mais inteligente e menos custosa para os cofres públicos.
  • São Paulo está explorando o uso de blockchain para aprimorar a gestão de contratos públicos e reduzir a burocracia. Com o intuito de usar a tecnologia para criar um registro imutável e transparente de todos os contratos firmados pela administração pública, a prefeitura consegue aumentar a eficiência e a transparência do processo.

Tecnologia para melhorar a eficiência e a eficácia dos serviços públicos

Esses são apenas alguns exemplos que estão usando a tecnologia para impulsionar a gestão pública, tornando-a mais eficiente, transparente e participativa. Ao passo que a tecnologia avança, mais cidades no Brasil começam a implementar soluções inovadoras que farão jus ao jeitinho brasileiro de resolver problemas.

Pode ter alguém questionando se aumentar o uso da tecnologia no relacionamento com o cidadão, vai afastar quem não sabe usar. Pesquisas mostram que estamos acostumados ao uso da tecnologia, o número de smartphones ativos no país já é maior do que a quantidade de habitantes, segundo o Global Mobile Market Report. Ademais, estamos falando das ferramentas digitais incorporadas no processo de construção da política pública, os cidadãos só vão ter contato com o resultado. Todavia, é importante garantir que as tecnologias de contato direto com os usuários sejam acessíveis, acolhedoras e capazes de suprir as necessidades de diferentes perfis. Antes de mais nada, as prefeituras precisam fortalecer o sistema de segurança desses dados coletados, para que sejam usados de maneira responsável e ética.

Assim sendo, acredito que cabe ao setor público se adaptar a essa nova realidade e aceitar a ajuda da tecnologia na gestão pública. Com o propósito não só de ampliar o impacto das suas políticas, como deixá-las perenes e harmonizadas com o avanço dos problemas sociais. Por consequência do que foi discutido aqui, podemos influenciar a população a ser mais participativa e presente nos processos de criação de políticas públicas.

Em conclusão, existem diversos cases de sucesso no Brasil e no mundo quando se trata de usar a tecnologia para impulsionar a gestão pública. Acredito fortemente que podemos nos inspirar neles para institucionalizar diversas dessas soluções nos quatro cantos do Brasil, adaptando a cada particularidade.

Se você for gestor público, qual o seu papel diante tudo isso?

 Quer se aprofundar no tema “uso de tecnologia no governo”? Confira esses artigos que publicamos no blog da ToGov:

  1. Gestão ágil e tecnologias para Governo: elementos chave para aumentar a produtividade e satisfação da população;
  2. Uso de tecnologia na gestão pública;
  3. Coronavírus: tecnologia de geolocalização monitora pessoas que entram pelas barreiras sanitárias em Viçosa.

7 comentários em “Tecnologias impulsionando a gestão pública”

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